8 de abr. de 2013

O Deputado e o Jardim Botânico

Uma coisa que me chama atenção é o fato de como um discurso, especialmente aquele "mal-dito", pode ser diferentemente interpretado; e geralmente, interpretado conforme o interesse daquele que o interpreta.

Uma postagem em rede social acusa um deputado federal de dizer que o Rio (de Janeiro) não precisa do Jardim Botânico (o parque, e não o bairro carioca). De acordo com a postagem, a crítica seria em função de possíveis alterações na área do parque, e pela remoção judicial das famílias que moram no local - 600, segundo o deputado - apenas porque seus familiares moram dentro daquela área.

Vendo e ouvindo o discurso sem pré-julgalmentos, não é exatamente assim. Na defesa daquelas famílias, ele compara o Jardim Botânico a qualquer outro parque da cidade, dando a entender que, na verdade, ele está preocupado e ocupado em defender apenas as "cerca de" 600 famílias que moram no local (dentre elas, a dele), não se importando com qualquer coisa que seja feito com o parque, ou seja: o Jardim Botânico PODE ser mantido, removido, destruído, aumentado ou reduzido, DESDE QUE não mexam com a moradia de sua famíla. Sim, existem outras famílias, mas se a dele não estivesse lá, será que estaria tão comprometido com a causa?

Não é ético nem aceitável que, tendo interesses pessoais em uma determinada causa, um parlamentar use a tribuna para defendê-la. No entanto, infelizmente, esta postura provavelmente seria adotada por qualquer outro político ou pessoa na posição dele (não esqueçamos que políticos são e representam pessoas) .

Independente de estar certo ou errado o deputado e da verdade que pode estar oculta em suas palavras (e está, já que ele não menciona sua família), a tal postagem pode ser interpretada, pelo menos, de duas formas. Ou foi uma opinião tendenciosa, ou uma falha de compreensão do discurso por parte do seu autor. O que estabelece a diferença é apenas a intenção com que foi escrita. E até a boa intenção, por vezes, pode ser desastrosa ao afetar o julgamento de um leitor menos atento. Eu mesmo, neste intante, posso estar sendo interpretado como não seria minha intenção. Quero dizer com isso que toda estória tem no mínimo duas versões sem que, necessariamente, uma delas seja a verdade "nua e crua", e que para se tirar conclusões - a SUA conclusão - é preciso conhecer estas versões. Criticar (e reproduzir críticas) sem ao menos conhecer estas versões é uma atitude inconsequente. Posso estar sendo inconsequente, por exemplo, ao reproduzir a  informação de que a família do deputado mora dentro do Jardim Botânico baseando-me apenas no que li na postagem original e na grande e confiável (até prova em contrário) imprensa.

Cada pessoa interpreta o discurso alheio conforme entende ou queira, desde que sua própria demanda seja atendida. Ocorre que em nossa sociedade contemporânea todos exigem respeito, ética e dignidade de todos, mas pouquíssimos cidadãos estão dispostos a agir conforme aquilo que desejam dos outros. Exigimos de políticos comportamento exemplar; políticos estes que vêm do povo ou que são por este mesmo povo, eleitos. Dois pesos, duas medidas... Hoje, com a comunicação cada vez mais imediata, o cuidado para não incorrermos em erro e para não induzirmos outras pessoas ao erro (o que é equivalente à IRRESPONSABILIDADE) deve ser redobrado. Não podemos sair acreditando rapidamente em tudo que lemos e vemos. E para julgar, precisamos ser, realmente, isentos: "Atire a primeira pedra..."

Vídeo do discurso

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