16 de mar. de 2016

Era uma vez... (uma fabuleta brasilesca)

Era uma vez...

Uma menininha queridinha do povo, que vivia num reino quase encantado; quase, porque boa parte do povo há tempos andava mesmo era desencantada: a princesa Esperança desaparecera.

Certo dia, diante do medo das incertezas que rondavam o reino, a menininha queridinha disse ao povo:

- Cuidado, mais vale um pássaro na mão do que dois voando!

Ocorre que, para a maior parte do povo daquele reino, não era permitida a posse de pássaros; não importava o quanto esse povo trabalhasse e produzisse, pássaros eram destinados apenas a alguns habitantes do reino. Havia gente com um, dois e até com muitos e muitos pássaros nas mãos... Mas havia muita gente sem nenhum pássaro.

Uma esperta bruxa, chamada Ganância, aproveitando-se da situação, disfarçou-se, fazendo-se passar pela princesa Esperança, e prometeu que todo mundo teria direito a ter, pelo menos, um pássaro na mão. Assim, a princesa Esperança, a impostora, venceu o medo e permaneceu liderando o reino por mais de três lustros.

A falsa princesa, podemos dizer, cumpriu a promessa, mas com o passar do tempo, a bruxa Ganância foi falando mais alto e forte, e o disfarce de princesa foi caindo, deixando à mostra sua verdadeira face. Como grande egoísta que era, acumulava muitos pássaros para si mesma, permitindo apenas aos seus amigos e alguns cidadãos que também o fizessem. Não se importava mais - se é que realmente se importou em algum momento - se haveria ou não pássaros para todos.



Alguns cidadãos, que já desconfiavam das intenções daquela falsa princesa, vez ou outra, e cada vez mais, protestavam exigindo a sua saída do reino; outros, que ainda acreditavam que ela fosse a verdadeira princesa Esperança, defendiam-na; e ainda havia aqueles que não sabiam mais em que ou em quem acreditar.  A relativa tranquilidade do reino estava abalada!

A menininha queridinha, recolhida até então, pegou do chão a máscara de Esperança que a impostora havia deixado cair, e disse ao povo:

- Viram? Melhor teria sido se continuássemos a ter um pássaro na mão, em vez de dois voando.

A queridinha só havia se esquecido de que, antes da falsa princesa tomar conta do reino, nem todos tinham direito a ter pássaros, não importava o quanto fizessem para isso.

E todos continuaram, como sempre.

Fim.

Ah! A verdadeira princesa Esperança, dizem, fugira com uma de suas amas, a Prosperidade, para viver um grande amor; e até os dias atuais ambas aguardam a Ganância deixar definitivamente o reino, para ter uma nova chance de voltar para casa.
Isso, claro, se a chefe da guarda imperial do reino, a Intolerância, permitir.
Mas essa já é outra história...