5 de abr. de 2011

O sexo dos anjos e o deputadinho homofóbico

Semana passada, num programa de TV, um deputado "filhote da ditadura" (como diria o saudoso Leonel de Moura Brizola) deu declarações sobre o que faria se tivesse um filho gay, além de confundir racismo e homossexualismo com promiscuidade, o que rendeu bastante audiência e polêmica nos dias seguintes.

Fala-se, com relação à discussões que se distanciam da essência de um assunto, que se está discutindo o sexo dos anjos, ou seja, teoricamente, anjos não teriam sexo, e tentar descobrir isso é perda de tempo.
Para os espíritas - não estou representando-os, aqui, que fique bem claro - um espírito pode encarnar tanto num corpo masculino quanto num feminino, em diferentes encarnações; isso equivaleria a dizer que o espírito, em si, não tem sexo, mas a cada encarnação, precisando de um corpo, e pressupondo o modo de preservação da espécie humana aqui na Terra, precisamos ser homem ou mulher, recebendo o corpo e a aparelhagem genital cabível à cada gênero. Partilhando desta crença, e pelo pouco que estudei e conheço, os espíritos caminham todos numa mesma direção e, sem perder a sua individualidade, irão se juntar todos em prol de algo muito maior (que não consigo transcender o suficiente para entender, e menos ainda para explicar, mas creio que isso acontece em algum momento, para cada ser). Não há sexualidade definida num espírito, já que ele tem a oportunidade de experimentar ser 'macho' e 'fêmea' em diferentes existências, e se isso acontece o espírito, definitivamente, não tem sexo. A homossexualidade ocorreria quando um espírito não se adaptasse ao corpo no qual reencarnasse, por motivos diversos (na minha modesta opinião, um misto de rebeldia desse espírito e de expectativas de seus genitores/cuidadores, desde a concepção).

A questão é que o principal motivo pelo qual estamos aqui é o amor. Sem amor, não somos nada, não temos nada, nada nos plenifica. Mas não falo do amor entre gêneros ou suas possíveis combinações, mas sim do amor fraternal, do amor entre os seres, muito maior que o amor de par, de casal, ou mesmo daquele entre pais e filhos. Amor de ser humano para ser humano. Este amor ainda está bem distante de nós, mas já temos oportunidade de treiná-lo, se o quisermos, através do respeito ao outro e da solidariedade. Exercitar isso abre campo para que as diferenças entre os seres diminuam, e para que nos coloquemos também em posição de merecedores de respeito e de solidariedade quando (e se) precisarmos. Aprender a conviver com as diferenças, com aqueles que pensam diferente de nós, nos habilita ao amor - o sublime, mais adiante.

Não sei se este mundo é gay, como dizem alguns, mas tenho a leve impressão que tudo caminha nesse sentido, seja pelo adjetivo, seja pelo substantivo "gay". Existe uma verdadeira legião de pessoas saindo ou não de 'armários' para ganhar o mundo, esperando reconhecimento do outro. Cabe, então perguntar, considerando os aspectos descritos acima: A que gay estão se referindo, e que mundo seria este?

Provavelmente, alguém virá aqui questionar minha heterossexualidade, e não me aborrecerei com isso. Mas, se você for um desses, sugiro questionar, antes, sua curiosidade a meu respeito; e depois, sua possível homofobia - de onde ela vem, qual a razão, qual o ganho - e buscar informação. Eu mesmo tinha algum preconceito, desfeito ao entender que homossexualidade não é sinônimo de promiscuidade, e que estas pessoas são seres humanos, que exatamente como nós, sentem, sofrem, amam, trabalham, estudam, lêem blogs... vivem, enfim.

Ninguém é obrigado a aceitar a opinião alheia, mas tem o dever de respeitar, para que a sua também seja respeitada. Argumentações, certamente, são válidas quando se tem o objetivo de compreender ou de se fazer entender. Fora isso, é discussão do sexo dos anjos.

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