31 de jul. de 2008

Atrações e pára-raios

Algumas pessoas atraem.
Há quem atraia dinheiro, trabalho, amizade...
Mas algumas atrações não são muito agradáveis: eu, por exemplo, costumo atrair fumaça de cigarro. É batata: onde estou, se estiver alguém fumando por perto, a maldita fumaça vem direto invadir meu nariz. Estranhamente, atraímos aquilo que mais nos incomoda, cada coisa, logicamente, com diferentes graus de repulsa.
Hoje eu estava com uma certa intolerância com bêbados (normalmente, sou paciente e respeitoso com eles); descobri isso assim que avistei um, que passaria por mim na rua. Previ a cena: ele desviaria do seu caminho, viria em minha direção com a mão estendida para que eu a apertasse. Aconteceu exatamente isso. Não me nego a fazê-lo, quando posso lavar a mão logo depois (questão de higiene, não de preconceito!) mas às vezes me desagrada. Hoje foi o caso, neguei-me e ele seguiu seu "rumo".
Por que todo bêbado tem o hábito de cumprimentar com um aperto de mão, mesmo sem conhecer a gente?

Deve haver gente homofóbica que costuma atrair gays. Há quem atraia "malucos", quem atraia cocô no sapato, quem atraia "inguinorantes", quem atraia chuva, insetos...

Todos somos, em algum momento, pára-raios de alguma coisa ou de alguém. Hoje, atraí o bêbado. Quem sabe, amanhã, não seja a equilibrista?

22 de jul. de 2008

"Lula assina lei para acelerar punição de crime ambiental"

Li no Yahoo! Notícias. A fonte é a Agência Estado.

Gostaria de ler também que ele assinou lei para acelerar punição aos crimes de lesa-pátria...
E que as prisões fossem cumpridas na íntegra. E que as multas fossem revertidas para reparação do que tenha sido lesado.

Tudo bem rapidinho.

14 de jul. de 2008

Reidy, o PAC e o PAN

O que pode haver de comum entre Affonso Eduardo Reidy, o PAC – Programa da Aceleração do Crescimento e o PAN?

Para início de conversa, Reidy, considerado um dos pioneiros na introdução da arquitetura moderna no país “praticava uma arquitetura discreta e nada preocupada em deixar marcas ou criar impacto”, conforme cita Edson da Cunha Mahfuz em seu artigoThe importance of being reidy”. Contemporâneo de Niemeyer e Lucio Costa, Reidy por muito tempo esteve relegado ao esquecimento, e somente agora vem tendo seu trabalho reconhecido. Ele “entendia a habitação como uma questão social e propunha a reestruturação urbana e a construção de núcleos habitacionais populares”. Baseado nesse conceito projetou, entre 1946 e 1952, os conjuntos habitacionais do Pedregulho, em São Cristóvão, e o da Gávea, conhecido como Minhocão. Investiu em projetos que tivessem função social e se integrassem com harmonia à paisagem natural.

Minha motivação pelo tema se deve ao documentário Lembranças do Futuro (2006, 27 min., direção de Ana Maria Magalhães e direção de fotografia do arquiteto Mário Carneiro), sobre o arquiteto francês naturalizado brasileiro Affonso Eduardo Reidy.

São dele alguns dos projetos mais conhecidos desta cidade (Rio de Janeiro), como o Conjunto Residencial Pedregulho (Conjunto Residencial Prefeito Mendes de Moraes, projeto de 1946), projetado para abrigar funcionários públicos do então Distrito Federal; o Conjunto da Gávea (Unidade Residencial da Gávea, Marquês de São Vicente, de 1952); o Museu de Arte Moderna e o Teatro Armando Gonzaga (Marechal Hermes, 1950), mas minha surpresa foi maior ao conhecer a abrangência destes projetos. Não se trata da simples construção de edifícios: Reidy foi responsável pelos serviços de arquitetura e urbanismo da prefeitura do Rio de janeiro a partir de 1932. Nos conjuntos residenciais populares construídos entre as décadas de 1930 e 1950 estava incutida a idéia de ordenamento das relações sociais através da vida comunitária. Porém...

O projeto do Conjunto Habitacional da Gávea foi “mutilado pela construção do Túnel Zuzu Angel”. Nos terrenos da PUC-RJ ficava o Parque Proletário da Gávea, criado na década de 1940 e removido em 1970; seus moradores foram levados para a Cidade Deus. Parques proletários (construídos três entre 1942 e 1943, abrigando mais de 5 mil pessoas) eram áreas destinadas ao abrigo temporário de moradores de favelas que seriam urbanizadas (vale a pena ler mais no site “Favela tem Memória”); a PUC “construiu seu campus de forma a inviabilizar a Auto-Estrada Lagoa-Barra e a expansão do Parque Proletário, e acabou ficando com um pedaço do terreno que seria usado pelo conjunto”.

O Conjunto Habitacional Pedregulho, considerado arrojado pela sua concepção espacial e pela prioridade dada aos equipamentos de lazer e convivência, foi construído na sua totalidade, porém sofre a falta de continuidade de investimentos na região. “O conjunto do Pedregulho traz em sua concepção (...) a relação entre habitação social, modernização, educação popular e transformação da sociedade, objetivos que nos nossos dias são postos em questão”.

Um plano diretor objetiva “fazer com que a propriedade urbana cumpra com sua função social, entendida como o atendimento do interesse coletivo em primeiro lugar, em detrimento do interesse individual ou de grupos específicos da sociedade. O alvo de um plano diretor é fazer a vida urbana mais confortável, aproveitável, segura, além de fornecer um terreno propício ao crescimento econômico da cidade.”

O PAN: Projetos urbanísticos e sociais importantes estavam atrelados aos jogos Pan-Americanos do Rio em 2007, como o “entorno” do Engenhão, as obras de tratamento de esgoto na baixada de Jacarepaguá, com saída no emissário da Barra, e a vila do PAN, cujos apartamentos “já estavam todos vendidos” e até agora moram lá somente meia dúzia de gatos pingados. Muito do que foi prometido pelas autoridades e, pior, divulgado pela imprensa, foi relegado ao abandono após a realização dos jogos.

A história mostra que grandes projetos – no caso o desenvolvimento urbano - geralmente ficam incompletos em função dos interesses econômicos e ou políticos dos grupos sociais para os quais trabalham os planejadores (aqui, os arquitetos e urbanistas). O que esperar do PAC, então? Ninguém se iluda: mais um projeto incompleto ou que não terá continuidade no futuro; mais e maiores problemas sociais à vista. Deus queira que eu esteja errado...

Fontes:
http://www.vitruvius.com.br/arquitextos/arquitextos.asp
http://www.itaucultural.org.br/aplicexternas/enciclopedia_ic/index.cfm
http://fotolog.terra.com.br/sdorio
Wikipédia

Late Show - maus tratos...

Não, não escrevo sobre o programa do Letterman, mas sobre o da Luisa Mell. No programa do último domingo, ela e uma equipe de veterinários/investigadores, com apoio da força policial, checa a informação de um cão que teria sido enforcado. Chegando à rua da residência denunciada, no portão da casa se lia a pichação “assaçino filha da...” (sic)(preferi usar as reticências para poupar os leitores mais conservadores.).

Lá dentro, deitado no chão, o corpo inerte do cão.

Após entrada na casa com a ajuda policial, sob protesto de uma moradora, os legistas constataram que a morte do animal foi realmente por asfixia, decorrente de um enforcamento involuntário: o pitbull, segundo a moradora, pulava constantemente uma mureta da parte mais alta do terreno para se atracar com os outros cães da casa, que ficavam na parte mais baixa.. Já havia sido ferido antes por estes outros cães, tendo sido devidamente medicado na ocasião por um veterinário (que já cuidava deles, e que falou ao telefone com a apresentadora, comprovando que o animal não sofria maus tratos). Tratava-se de uma fatalidade, e não de um assassinato: para evitar que pulasse, como de costume, e brigasse com os outros cães, havia sido acorrentado; conseguiu pular, mas o comprimento da corrente não o deixou chegar ao solo; ele também não consegui voltar, morrendo enforcado.

O “crime” dos moradores, segundo os veterinários/investigadores, foi culposo e não doloso. Seus donos deveriam prever que, pulando preso a uma corrente curta, ele poderia sofrer o enforcamento; e após sua morte, a falta de compaixão, pelo fato do corpo ter ficado no pátio esperando ocasião propícia para sua remoção.

De maus tratos, realmente, só à língua portuguesa, na pichação de alguém que, além de não respeitar o patrimônio alheio, também acusa sem conhecer os fatos.

Jogando contra

Num telejornal nacional, autoridades e especialistas comentam a crescente inflação, uma delas dizendo que o governo precisa reduzir os gastos públicos, entre outras coisas, para contê-la.

A matéria seguinte, no mesmo telejornal nacional, informa que o senado, “contra a vontade do seu próprio presidente”, cria 97 novos cargos de assessores “sem necessidade alguma” e sem concurso público, ao custo de 12,5 milhões de reais/ano. O que este telejornal não informou foi o motivo: o senado somente seguiu câmara dos deputados federais, que aumentaram suas verbas de gabinete. Em outras palavras, o que um faz, o outro não pode ficar atrás e simplesmente imita. Semelhante a uma disputa de vizinhos invejosos, dispostos a se endividar para que um não se sinta inferior ao outro. A diferença é que os vizinhos gastam seu PRÓPRIO dinheiro, e nossos ilustres representantes, gastam o NOSSO dinheiro.

Nós sentimos a inflação a cada ida ao supermercado e a cada fechamento do mês, onde vemos sobrar cada vez menos dinheiro ou dinheiro algum; na maioria dos casos, “sobra mês no salário”. ELES não sentem nada disso: acaso sobre pouco ou falte, aumentam seus próprios salários, verbas de gabinete. Criam impostos e cargos sem o menor constrangimento, já que somos NÓS que pagamos a conta. Eles não sentem nada.

Mas eu sinto. Sinto que tem muita gente que comanda jogando contra. Em minha casa, por exemplo, se precisamos reduzir ou conter gastos em prol do benefício coletivo, é insensato – insano, até – que um dos membros da família aumente os gastos. Isso seria jogar contra, e é exatamente o que a “classe” política anda fazendo. Na verdade, ela sempre fez, mas vem perdendo o controle cada vez mais, já que nem há punição, nem controle algum da população sobre seus atos.

Sinto também que ambos, câmara e senado, estejam tornando-se desnecessários e, já que se acompanham nesse jogo contra, melhor que um deles encerre suas atividades para o bem do país. O outro, claro, deve acompanhar.

Acabo de ler em algum lugar que o deputado C. Hernandez quer a redução do número de deputados na câmara. Luz no fim do Túnel?

...

Para refletir:

Locke: “Os “pobres” não têm acesso a uma vida racional plena, pois estão presos às preocupações com sua subsistência.” (ou seja, não têm opinião.)

Rousseau: “Como é possível que a maioria, detentora da força, se submeta à minoria?” (A força sempre está do lado dos governados; os governantes nada têm em seu apoio senão a opinião.)

Ou algo assim.