14 de jul. de 2008

Jogando contra

Num telejornal nacional, autoridades e especialistas comentam a crescente inflação, uma delas dizendo que o governo precisa reduzir os gastos públicos, entre outras coisas, para contê-la.

A matéria seguinte, no mesmo telejornal nacional, informa que o senado, “contra a vontade do seu próprio presidente”, cria 97 novos cargos de assessores “sem necessidade alguma” e sem concurso público, ao custo de 12,5 milhões de reais/ano. O que este telejornal não informou foi o motivo: o senado somente seguiu câmara dos deputados federais, que aumentaram suas verbas de gabinete. Em outras palavras, o que um faz, o outro não pode ficar atrás e simplesmente imita. Semelhante a uma disputa de vizinhos invejosos, dispostos a se endividar para que um não se sinta inferior ao outro. A diferença é que os vizinhos gastam seu PRÓPRIO dinheiro, e nossos ilustres representantes, gastam o NOSSO dinheiro.

Nós sentimos a inflação a cada ida ao supermercado e a cada fechamento do mês, onde vemos sobrar cada vez menos dinheiro ou dinheiro algum; na maioria dos casos, “sobra mês no salário”. ELES não sentem nada disso: acaso sobre pouco ou falte, aumentam seus próprios salários, verbas de gabinete. Criam impostos e cargos sem o menor constrangimento, já que somos NÓS que pagamos a conta. Eles não sentem nada.

Mas eu sinto. Sinto que tem muita gente que comanda jogando contra. Em minha casa, por exemplo, se precisamos reduzir ou conter gastos em prol do benefício coletivo, é insensato – insano, até – que um dos membros da família aumente os gastos. Isso seria jogar contra, e é exatamente o que a “classe” política anda fazendo. Na verdade, ela sempre fez, mas vem perdendo o controle cada vez mais, já que nem há punição, nem controle algum da população sobre seus atos.

Sinto também que ambos, câmara e senado, estejam tornando-se desnecessários e, já que se acompanham nesse jogo contra, melhor que um deles encerre suas atividades para o bem do país. O outro, claro, deve acompanhar.

Acabo de ler em algum lugar que o deputado C. Hernandez quer a redução do número de deputados na câmara. Luz no fim do Túnel?

...

Para refletir:

Locke: “Os “pobres” não têm acesso a uma vida racional plena, pois estão presos às preocupações com sua subsistência.” (ou seja, não têm opinião.)

Rousseau: “Como é possível que a maioria, detentora da força, se submeta à minoria?” (A força sempre está do lado dos governados; os governantes nada têm em seu apoio senão a opinião.)

Ou algo assim.

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