23 de mar. de 2010

A normalidade, para uns e outros...

"Quem nunca discutiu, brigou com a esposa, ou até saiu na mão com ela?"
(Um goleiro do flamengo, sobre o episódio envolvendo um imperador-não-sei-de-que e a noiva nervosa dele.)

"Quem nunca foi a um baile funk no morro, escoltado por traficantes armados?"
(Essa não foi dita, mas o mesmo sujeito deve ter pensado isso, no episódio envolvendo um outro jogador do mesmo time.)

...

Se isso é normal, começo a achar que sou anormal...

17 de mar. de 2010

Aprendendo com os mais velhos

Há algum tempo, fui a uma “roda de choro” na Lona Cultural Jacob do Bandolim, em Jacarepaguá. Era uma bela manhã de domingo, e o grupo Tocata do Rio* brindava os presentes com ótimas execuções de clássicos do chorinho. A maioria dos integrantes do grupo - José Medeiros (violão de 7 cordas), Juarez Cabral e Marlindo Barboza (violão de 6 cordas), João Cunha (cavaquinho), Severino Ramos (pandeiro), Ivan Pacheco (ritmo) e Milton Barbosa (bandolim) - aparentava já ter adentrado a terceira idade; mas dois músicos convidados ainda eram relativamente jovens. Isso me fez refletir no legado musical deixado por nossos antepassados, e como cada geração sofre influências musicais diversas, recriando e reproduzindo-as para as gerações futuras.

De algum modo, isso é preocupante. Os mass-media insistem em reproduzir somente músicas de apelo popular, pelo – óbvio - retorno financeiro imediato que elas proporcionam, relegando praticamente ao anonimato músicas e artistas que não se enquadram nesse contexto. Sufoca-se uma manifestação cultural (um gênero musical, no caso) até que ela desapareça, dificultando ao máximo seu acesso às próximas gerações. "Não deixe o samba morrer, não deixe o samba acabar.", cantava Alcione, há anos, um certo temor de que o samba sucumbisse. Por isso às vezes não é tão fácil, mesmo com a Internet, encontrarmos determinadas informações sobre alguns cantores, músicos e músicas que simplesmente foram ignorados por essa mídia cada vez mais ávida pelo lucro e menos pela informação. Então, o que será passado adiante? O que se aprenderá com os mais velhos? Não consigo vislumbrar um grupo de veteranos, do funk ou de axé, por exemplo, reunidos, daqui a algumas dezenas de anos, para entoar suas canções que, provavelmente, já terão sido substituídas por outros gêneros tão descartáveis quanto aquelas. Isto não é um ataque a estas duas manifestações musicais - que são legítimas, embora eu não as aprecie, mas uma defesa das demais.

Todos têm o direito de acesso às ofertas, para que as escolhas sejam feitas conforme as próprias preferências e conveniências. Ter de escolher entre A e B, sem que lhe seja permitido conhecer B e C não é escolha, é imposição. A mídia, no entanto, não vai mudar por nossa causa.

16 de mar. de 2010

A rainha gostosa, o velho babão e os royalties

Rainha de bateria de escola de samba carioca, também funcionária da Assembéia Legislativa estadual, há seis meses recebia salário desta última, mas não comparecia ao trabalho. Após a imprensa provar a a existência do fantasma, digo, da funcionária fantasma, o presidente da casa transferiu de cargo a bela aparição (no carnaval ela aparece, e como!), o que representaria* para ela um reajuste salarial de 200%.
Pausa: Imagine-se, você, leitor amigo, deixando de ir trabalhar por seis meses sem motivo justo, e ao retornar ser "punido" apenas com uma transferência de cargo e 200% de aumento de salário... Agora, acorde!
Talvez por isso, o velho babão juntou-se ao governador chorão no lamento pelos royalties derramados - ou a derramar. Sem tais recursos, como será possível realizar os pagamentos da rainha fantasma e os de outras assombrações, ávidas pelo dinheiro que circula fácil em nosso Estado? Em nosso Estado, enfatizo, e não nas mãos, bolsos, malas, e meias da população.

(*) Dizem que, após a insistência da mídia, a rainha, resolveu abdicar do "serviço" público.

5 de mar. de 2010

Mulher, mulher, mulher... Uma mulher, duas mulher, três mulher...

Vem chegando o Dia Internacional da Mulher, e vou começar minhas homenagens citando a música mais tocada no carnaval carioca em 2010: “Mulher, mulher, mulher”. Calma, meninas, não é depreciativo de minha parte. É apenas uma forma bem-humorada de manifestar o quanto gosto de vocês (uma de cada vez, pra não dar briga).

A música, que acerta no gênero (o feminino), erra no número (e na concordância), o que a torna mais engraçada. Se a “letra” seguisse as regras gramaticais, a “melodia” seria impossível. É a irreverência carioca que, no caso, não creio ser depreciativa nem ofensiva a ninguém. Talvez essa música incomode sim, mas àquelas mulheres que em algum momento da vida não foram e/ou não souberam fazer-se respeitar pelos homens. Mas isso é assunto para outra postagem mais séria.

Segundo o próprio Neguinho Beija-flor, cantor e autor do sambinha, juntamente com Murilo Rayol , “O samba é ruim, mas é bom.”. Composto há muitos anos, só agora foi lançado, aproveitando o momento nada seletivo da audiência brasileira. Neguinho comenta, ainda: “A verdade é que ali não tem letra. É uma porcaria. Eu repito a palavra mulher 192 vezes. Nunca imaginei que esta música seria sucesso. O difícil é fazer o fácil. Jamais um Chico Buarque iria compor uma música como essa. “ Nisso concordo: Chico, excelente compositor, já fez algumas músicas estranhas, mas todas as suas canções sempre foram muito bem construídas, embora ele não tenha o mesmo talento para cantá-las .

Se não conhece a música-homenagem, eis a letra (os grifos são meus).

Mulher, mulher, mulher
Mulher, mulher, mulher
Mulher, mulher, mulher
Mulher, mulher, mulher
Mulher, mulher, mulher

A mulher é a mulher
A mulher é a mulher
A mulher é a mulher
A mulher, a mulher
A mulher, a mulher!

Melhor que uma mulher
dez mulher
dez mulher
Melhor que dez mulher
mil mulher
mil mulher

Uma mulher, duas mulher,
Três mulher, quatro mulher
Cinco mulher, seis mulher
Sete mulher, oito mulher
Nove mulher, dez mulher

[refrão]
Mulher, mulher, mulher
Mulher, mulher, mulher
Mulher, mulher, mulher
Mulher, mulher, mulher
Mulher, mulher, mulher

Fonte: (Trechos da entrevista) http:// extra.globo.com

Pagando o preço


A vida, para nós, simples mortais, é feita de trocas. À exceção de grandes missionários terrenos, os quais podem ser contados a dedo, sempre esperamos algo em troca do que damos, ou damos algo em troca do que já recebemos. Assim, trocamos nossos serviços por dinheiro, dinheiro pelos serviços e produtos alheios, serviços por serviços, produtos por produtos. Trocamos olhares, abraços, apertos de mão, carícias. Trocamos informações, trocamos até mesmo graças e milagres por preces, velas, dízimos. Trocamos o nosso calar pelo silêncio alheio, o nosso esbravejar pelo respeito ou medo do outro.
Em outras palavras, tudo - e todos - tem um preço, mesmo não sendo este preço algo material. Pagamos, na maioria das vezes, sem o perceber. Mas por que, exatamente, o fazemos? Sentimento de gratidão, débito ou culpa? Até que ponto não podemos simplesmente dar, sem esperar nada em troca, e receber, sem sentir-se obrigado a retribuir? Que força estranha é esta que nos move? Vamos tentar descobrir.

Gratidão: quando damos algo para alguém, de coração aberto, nossa maior recompensa é o prazer de poder ter feito o que fizemos. Quem já experimentou isso sabe do que estou falando. Puxe na memória, você vai encontrar algum momento assim na sua vida. Quem dá desta forma, não está esperando retribuição alguma, nem mesmo a gratidão; se, ao contrário, recebe ingratidão e se ressente, então não estava de coração aberto quando ajudou o outro; esperava retribuição.
Agora, coloque-se, você, no lugar do que recebe a ajuda ou o favor; se você acha que tem que retribuir (pagar) seu benfeitor, é porque ele não o ajudou sem esperar paga, e deixou você perceber isso de alguma forma, ou porque você acha que não merecia a ajuda, e por isso será infinitamente grato. Assim é que muitas pessoas, mesmo quando “quites” com seus benfeitores, nunca acham que já pagaram o suficiente. Neste último caso, a necessidade real não é de retribuir, mas sim, de distribuir: dar de si mesmo para outros; logicamente, isso somente vai livrá-lo daquela incômoda eterna gratidão se for feito do fundo do coração, sem esperar nada em troca, como o fez seu benfeitor. A gratidão se torna incômoda quando nunca nos sentimos quites para com aquele que nos ajudou. Um exemplo pessoal: anos atrás precisei, pedi e recebi uma ajuda financeira do pai de uma amiga, para pagar a matrícula de minha faculdade. Atendido de pronto, busquei quitar meu débito – o do dinheiro – poucos meses depois, como me comprometi, e ele negou-se a receber (na verdade, para mim era “muito” dinheiro, mas para ele, não). Pronto: baixou o espírito da gratidão! Devo agora gratidão a ele! Poucos anos depois este homem precisou de um serviço profissional meu, e adivinhe o que fiz? Exatamente, retribuí a gentileza; aí o tal espírito virou um “fantasma” que, embora não me atormentasse, ficou lá me dizendo que eu ainda estava em débito com o pai da minha amiga. Anos depois, porém, compreendi que não se quita um favor descompromissado com outro favor, mesmo que também seja só de coração.
Nada que façamos pagará a gratidão que temos por alguém, da mesma forma que ninguém poderá quitar a gratidão que tenha para conosco. Eu me libertei do tal “fantasma”, mas não deixei de ser grato àqueles que me beneficiaram até hoje. E procuro multiplicar isso, fazendo favores a outras pessoas, descompromissadamente (aviso, entretanto, que estou bem longe de ser um daqueles missionários que citei no início deste texto!).

Débito: Diferentemente da gratidão, o débito é o dever propriamente dito. Ao recebermos algo por algum motivo, sentimo-nos na obrigação de devolver. A não ser, obviamente, que o credor não queira receber de volta, mas, mesmo assim, ainda haverá um débito a ser saldado. Neste caso, a transferência de credor finalizaria a sensação do débito: pagamos algo que devíamos a alguém, para outro alguém, e ficamos quites. O problema ocorre quando não o fazemos, ou quando cremos não ter pago este saldo devedor na sua totalidade. Neste caso, voltamos ao “não merecimento” daquele que recebe. Há pessoas que dizem “eu não mereço tanto” ou “tenho mais do que mereço”, tendo e dando a impressão de que são mais, ou menos merecedoras de dádivas que os outros indivíduos. Com isso, tanto podem se sentir, quanto podem fazer os outros sentirem-se em débito além daquele que é real.

Culpa: É o débito derivado de prejuízos de qualquer natureza causados a nós mesmos ou aos outros, geralmente produzido por nossas más escolhas. Este sentimento, do ponto de vista de quem o sente, pode ser bastante nocivo ao próprio indivíduo, enquanto não compreendido e considerando-se a situação e o momento em que a escolha infeliz foi feita. Quem sente culpa vive sempre o conflito do não merecimento, seja de si mesmo, seja dos outros. Dia desses, eu comentei com uma amiga sobre como eu não me sentiria bem em, podendo, comprar um carro que custa mais de dois milhões de Reais, sabendo que há tanta miséria ao meu redor. Hipotético, porém, sentimento de culpa, não por causar a miséria de ninguém, mas por não fazer nada para aplacá-la tendo recursos para isso. Melhor não ter tanto dinheiro? Absolutamente! Melhor usá-lo com sabedoria e compaixão, evitando arrependimentos, evitando culpas.
Ainda que a escolha equivocada já tenha sido feita e a culpa já esteja instalada, o importante é perceber que tão ou mais importante que o perdão alheio, é o perdão a si mesmo, desde que acompanhado de arrependimento sincero e compromisso de reparação, da forma possível, e de empenho na auto-avaliação e no autocontrole, daí em diante.

Como andam estes nossos sentimentos? Com quem e de que forma estamos realizando nossas trocas? Será que não estamos nos sentindo em débito permanente, na posição dos não merecedores, o que muitas vezes nos leva (inconscientemente) às retribuições pesarosas, a “pagar o preço”? Verifique se, a cada coisa boa que você faz ou que lhe acontece, sucede-se imediatamente uma ruim para “estragar a festa”; e, verifique, principalmente, a possibilidade de você já esperar este resultado; em caso positivo, a boa notícia é que é possível mudar isso, quando você quiser. Um pouco de caridade com você mesmo, sem desconsiderar os demais, pode tornar a vida bem mais leve!
É só um convite à reflexão, que eu também estou fazendo.

4 de mar. de 2010

Lendas da Copa e do futebol

Aproxima-se a Copa do Mundo e a imprensa vem com os mesmos papos de sempre: Espanha e Portugal são fortes candidatos ao título. Creio que a imprensa brasileira somente repete o que seus colegas europeus dizem.
A Espanha, desde que me conheço por gente, nunca chegou perto do título. Portugal, idem. Vencer ou jogar muito bem a Eurocopa não é determinante para o sucesso no Mundial. Da mesma forma, a Copa América não é garantia de que o vencedor ou o vice vão figurar na final da Copa do Mundo (olha que incluí o vice, hein!). Curioso é que isso também acontece por aqui: enaltecidos pela imprensa local no campeonato carioca, os grandes Botafogo, Vasco, Flamengo e Fluminense têm sido meros coadjuvantes no Brasileirão, com esporádicas exceções.

É possível concluir que entre os jornalistas esportivos também há fanáticos torcedores, e que as notícias empolgantes são as que vendem mais jornais. Conclui-se, também, que muitos brasileiros ainda têm o velho hábito de achar que tudo que vem de europeus e norte-americanos é melhor do que o que temos aqui, embora exportemos para eles. Isso explicaria, acho, o sucesso internacional de brasileiros como Rivaldo, Adriano e afins, e de europeus como Zidane, Cristino Ronaldo e similares. Nenhum deles, a meu ver, estão acima da média (alguns, até abaixo dela!). Craques, mesmo dá para contar a dedo. Dos que vi em video-tapes, aos que vejo hoje, ao vivo, só reconheço: Pelé, Garrincha, Zico, Maradona e Romário. Poucos outros merecem alguma citação, mais pelo evidente prazer em jogar futebol, menos pela irregularidade de suas carreiras: Ronaldinho Gaúcho e Tévez. Promessas? Robinho. Só. Nenhum europeu, né? Nada contra eles, mas até agora nenhum deles me convenceu, nem me empolgou.

Curiosa analogia: A Fórmula Um, por alguns anos, viu sua audiência despencar na TV brasileira, quando só um piloto, sem adversários nem carros à altura, ganhava as corridas e os títulos. Foram sete temporadas com o locutor tentando convencer o espectador que a competição estava empolgante. Puro enfado.