2 de jan. de 2011

Ensaio sobre a beleza

A beleza física é um colírio para os olhos, conforme os critérios de cada observador. Mas, como tudo na vida material, é efêmera. Os anos passam e se encarregam de arruinar aquilo que outrora era admirável. Muitas relações se desfazem por conta disso: escolhe-se alguém bonito para compartilhar a vida a dois, sem levar em conta a "certeza" das rugas do envelhecimento, a calvície, a obesidade, as enfermidades próprias da idade. Logicamente, os recursos hoje disponíveis podem disfarçar muitos desses efeitos do tempo, mas não os eliminam, isso sem contar que muitas pessoas nem têm acesso a esses recursos. Então, quando a beleza desaparece, desaparece o “amor”, e busca-se outro par, geralmente mais belo, por ser mais jovem.
Relações que tem por base somente o desejo vinculado à estética do outro tem prazo de validade determinado.
Há seres que possuem outro tipo de beleza, não visível aos olhos do outro. Ou, melhor, ela é perceptível também pela visão, mas não somente.  Dizem que os olhos são a janela da alma, e talvez seja exatamente isso: o que vemos é a alma do outro, o que também explica ás vezes sentirmos um desagradável desconforto diante de uma pessoa fisicamente linda. Uma alma virtuosa transparece sua virtude independentemente da estética do corpo que ocupa; ela conquista quem lhe esteja receptivo. Sua beleza está nos seus gestos e nas suas atitudes, resultado das virtudes já adquiridas e que dificilmente o tempo apagará. Relações baseadas também no desejo, mas vinculado este à beleza da virtude do outro, têm validade indeterminada.

Seja por auto-estima, seja para conquistar um par, ou seja por ambos motivos,  é válida a utilização de técnicas de rejuvenescimento, ou de embelezamento artificiais ou naturais - como cirurgias plásticas, silicone, botox, roupas com enchimentos, alisamento dos cabelos etc.  Mas estes recursos tendem a camuflar o verdadeiro ser que, se ainda não revelado e percebido, transparecerá em algum momento, e isso poderá surpreender o outro, seja na estética física, seja na virtude da alma, e o amor então ser posto à prova.

Alguns podem entender que esta é uma  defesa da escolha de um par “feinho” para uma relação a dois, o que não é verdade: encontrar alguém bonito “por dentro e por fora” para dormir, acordar e viver com a gente, não só é possível como é desejável.
Quem gostaria de dormir com uma pessoa que na manhã seguinte estará transformada, para pior, em outra pessoa?

Um comentário:

  1. Edu,

    adorei o texto.

    Meu pai me criou dizendo sempre que a pessoa precisa mostrar exatamente o que é, sem representar, sem criar personagens, pois nada mais desagradável que ver "cair a máscara" da pessoa que se tem ao lado. Acabei transformando esse ensinamento em escolha de vida.

    Óbvio que "se enfeitar" é bom (e eu adoro). Aliás, faz parte da natureza como forma geral (os animais exibem suas plumas e cores para conquistar o parceiro).

    Mas entre se enfeitar e se camuflar, vai uma distância sem fim...

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