3 de jul. de 2012

"-A Sra. avançou o sinal!"... "- E por causa disso você bate no meu carro?"


Uma pequena colisão no trânsito. Um ônibus (no qual eu estava) bate na lateral traseira de um belo “SUV” prateado. A condutora deste último desce, e segue-se a parte do diálogo, que consegui ouvir, com o motorista do coletivo:

- Ô seu motorista, não me viu não?
- A Sra. avançou o sinal!
- E por causa disso você bate no meu carro?
...

Pelas palavras de ambos, ela entende que pode transgredir as regras sem merecer qualquer tipo de consequência; ele, por sua vez, se dá o direito de punir quem descumpre uma regra. Ambos acabam, com isso, punindo a si mesmos, e aos outros: ela ficará com o veículo (o bem material) avariado, ainda que temporariamente; ele, receberá algum tipo de reprimenda da empresa de ônibus onde trabalha; e os passageiros do coletivo, ficam com o aborrecimento do atraso da viagem. Isso sem contar com outros possíveis prejuízos, para outras pesoas, como consequencia de um “efeito borboleta”.

Foto: www.sxc.hu
O fato de alguém avançar um sinal de trânsito não dá ao outro o direito de colidir os veículos, quando a colisão pode ser evitada (como eu dirijo e tenho noções de direção defensiva, posso assegurar que foi este o caso). Fiquei com a impressão de que o motorista do ônibus não se importou em “punir” aquela pessoa que OUSOU cruzar um veículo bonito e novinho na frente dele, atrapalhando sua trajetória, da mesma forma entendi que aquela pessoa que estava dirigindo aquele lindo carro prateado sentiu-se no DIREITO de transgredir as regras do trânsito, atrapalhando o ir e vir de outros veículos. 
Não me baseio, ao dizer isso, apenas no fato em si: ando muito nas ruas, e observo, também muito, o comportamento displicente e/ou arrogante de motoristas desta cidade. Não serei o primeiro a pensar ou dizer isso, mas os condutores de veículos depositam no volante toda a carga emocional da qual estão revestidos, e aqueles que conduzem o veículo maior ou o mais moderno insistem em estabelecer uma hierarquia de poder que NÃO EXISTE nem de fato e nem de direito; é uma “simples” disputa pelo poder, onde quem "acha que pode" desafia quem "tem certeza de que pode mais", e ambos encontram pelo caminho a teimosa resistência ou a benevolente compreensão daqueles que "sabem que os direitos são iguais"; como é muito tênue a linha entre o poder e o abuso do poder, os conflitos são gerados, e TODOS saem perdendo de algum modo, com prejuízos que vão dos pequenos danos materiais às grandes tragédias do trânsito (que, em geral, não causam comoção em quem as provoca, apenas nas famílias das vítimas). 
Em nome do EU, a vida e a saúde humana vão perdendo a importância.

A razão, tão deixada de lado nos últimos tempos, agoniza diante do egoísmo.

Sugestão de filme, para reflexão: Crash -No limite

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